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Disco: “Field of Reeds”, These New Puritans

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These New Puritans
Experimental/Indie/Art Rock
http://www.thesenewpuritans.com/

Por: Cleber Facchi

These New Puritans

Exatidão e previsibilidade são palavras que não se relacionam ao trabalho do These New Puritans. Se Beat Pyramid (2008), registro de estreia do grupo, soava como uma inevitável contribuição à nova cena britânica – na época encabeçada por bandas como Foals, Klaxons e Late Of The Pier -, com a chegada de Hidden em 2010 tudo foi alterado. Desenvolvido dentro de uma ambientação essencialmente experimental, o registro foi apenas o princípio para aquilo que a banda reforça com maturidade em Field of Reeds (2013, Infectious Music), terceiro registro da carreira, e uma completa reestruturação no que parecia acertado dentro da premissa original da banda.

Tratado em uma medida essencialmente climática, o presente disco se ausenta do reforço claro de batidas e componentes tribais em busca de suavidade. Primeiro registro dos ingleses sem a presença da tecladista Sophie Sleigh-Johnson, o álbum cresce como um nítido espaço de invenção, expandindo a massa instável de experimentos instrumentais que Jack Barnett, George Barnett e Thomas Hein já vinham detalhando desde o primeiro álbum. Brando em relação ao clima crescente de We Want War, Attack Music, Fire-Power e qualquer música épica que (re)apresentou o grupo em 2010, cada instante do trabalho se apega aos detalhes e sutilezas em uma medida pontuada pela incerteza.

Soando como uma versão moderna do Talk Talk – quarteto inglês que lentamente abandonou a relação com a New Wave para brincar com as texturas do Jazz, Art Rock e Ambient Music -, faixa após faixa o TNP usa do novo álbum como um sentido de descoberta. Acolchoado por pianos, elemento tímido ou talvez controlado no registro anterior, o atual lançamento se esforça para ambientar a banda em um exercício extenso e de extrema relação entre as faixas. Tudo é parte de um mesmo composto homogêneo, como se a abertura doce de The Way I Do se cruzasse com a herança do Radiohead em Kid-A na faixa V (Island Song), até finalizar o disco com a calmaria da faixa título.

Naturalmente corajoso, Field of Reeds talvez funcione como uma antítese em relação a tudo o que abastece a cena inglesa ou mesmo os trabalhos anteriores da banda. Quem esperava por uma possível relação entre o pop e as experimentações à exemplo do que o Foals conseguiu em Holy Fire, ou o Everything Everything com Arc, encontrará nas nove composições do álbum um tratado complexo, porém estranhamente encantador. Feito para se perder na sobreposição de texturas, arranjos de vozes, sopros e composições jazzísticas tingidas pelo clima Noir, o trabalho exige tempo do ouvinte, que encontra nas paisagens imensas do disco um catálogo ilimitado de possibilidades. Na correria que sustenta a música atual, o novo álbum do TNP é um refúgio, por vezes bucólico e em outros instantes essencialmente desolador.

Apoiado em arranjos orquestrais que brincam com a música clássica, além de trabalhar com genialidade os vocais de forma instrumental, o disco se arrasta em uma medida própria, como se tudo o que é apresentado estivesse posicionado de forma exata e mutável ao mesmo tempo. Não existem aberturas, composições acessíveis ou mínimas possibilidades de o ouvinte se deparar com um provável “hit”. Talvez as viradas plásticas em Fragment Two ou a melancolia de Dream, adornada pelos vocais da colaboradora portuguesa Elisa Rodrigues, entretanto, a estranheza predominante é o que acaba abastecendo o disco. O mais curioso talvez seja perceber o quanto a excentricidade do registro prende a atenção do ouvinte. Afinal, seria a necessidade em encontrar marcas antigas do grupo ou a evidência natural de ser surpreendido a cada faixa o que realmente encanta?

Delicado e naturalmente difícil em diversos aspectos, Field of Reeds talvez não seja de fato uma surpresa para quem já vinha encarando as transformações do grupo ao longo dos anos. Entretanto, à medida que os arranjos, samples e vozes delicadas são apresentadas pela obra – como se um imenso tecido instrumental fosse desenrolado -, o espanto se faz evidente. Da mesma forma que em Smother (2011) do Wild Beasts ou mesmo nas reformulações do Radiohead pós-OK Computer, o novo álbum do These New Puritans esforça na transformação constante dos sons um ingrediente funcional. Assim, ao se abster de linearidade e previsão, a banda transforma toda composição em acerto, brincando com as interpretações do ouvinte sem que ainda assim haja qualquer certeza.

TNP

Field of Reeds (2013, Infectious Music)

Nota: 8.4
Para quem gosta de: Wild Beasts, Talk Talk e Radiohead
Ouça: Nothing Else, Dream e V (Island Song)



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